quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Os protegidos dos chefes

Um aviso a todos os leitores: fazer estágio nem sempre é viver num regime “escraviário”, trabalhar horas a mais sem ser recompensado ou tomar duras de chefes desinformados sobre o seu trabalho. Existe uma classe – rara, fique claro - de estudantes que conseguem atingir um nível em que o seu tratamento é diferenciado, um nível em que suas palavras são ouvidas e que suas opiniões são aceitas quase sem restrições pelos chefes. Esses brâmanes corporativos são a nata dos estagiários.

Identificar um desses não é difícil: provavelmente será aquele que mais fala diretamente com o patrão e vice-versa. É também aquele que é o parâmetro de todas as comparações na hora de se avaliar os resultados de todos. Obviamente, na ausência do chefe, os outros estagiários, ressentidos, não perdoam. O bullying não pára.

“É uma m*rd*, a galera me zoa demais”, diz Joãozinho, que faz Geografia pela UFV e trabalha num dos braços da universidade. O nome fictício usado aqui para se mencionar o rapaz traz o principal resultado de sua predileção: o acréscimo, por parte dos seus colegas de trabalho, do carinhoso sufixo ”inho”. Curiosamente, seu chefe, que tem um filho também sob seu comando na mesma seção que João, se refere ao seu rebento usando o mesmo sufixo. Uma virtuosa coincidência.

Perguntado sobre os benefícios de sua situação, Joãozinho, no melhor estilo boleiro, é enfático: “eu faço bem o meu trabalho e sou recompensado”. Na verdade, além de desenvolver bem o trabalho, ele aproveita de uma situação que independe dos estagiários, que é o fato de que muitos chefes têm seus estudos centrados numa área da ciência, mas empregam alunos que estão se formando em outra coisa. Assim, os resultados obtidos, que dão também créditos ao currículo dos empregadores, se tornam melhores por criar maior variação de temas estudados nesses currículos. Além disso, a falta de familiaridade com assuntos de fora da sua área faz os chefes se impressionarem mais facilmente.

Contando também com essa fórmula de trabalho-bem-feito-e-inédito, Marcelão conquistou um bom espaço no seu trabalho. Estudante de Educação Física, também pela UFV, o estudante aumentou a área de atuação de setores da empresa e conseguiu aumento, participação nos lucros, o sufixo “ão” e noites de PlayStation 3 na casa do seu solitário chefe. “Ele é legal”, resume Marcelão.

Então, aos interessados, lembrem-se: com uma grande dose de trabalho, algum oportunismo e ignorando colegas de trabalho malvados, chatos e ressentidos como os de Joãozinho, seu estágio pode valer mais ainda como uma excelente experiência profissional.

2 comentários:

  1. Haha! O cara se deu bem ali, além do salário ainda conseguiu um companheiro para jogar. Deve ser bem legal ser amigo do chefe, torna o ambiente de trabalho menos chato e monótono.
    Mas, também tem as coisas chatas, como os colegas de trabalho ficarem enchendo seu saco por você ser o "queridinho", o que é uma semelhança com a escola, já que isso também ocorre na nossa infância.
    Gostei muito do blog e principalmente do post! :)

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